quinta-feira, 30 de junho de 2011

Seu Edno vai voltar pro Nordeste

Ele veio pra São Paulo faz 20 anos.  E avisa com tanta certeza quanto 2 e 2 são 4.

- Só fico aqui mais 5 anos e me aposento. Depois volto pra minha cidade.

Não. Ele não está reclamando de São Paulo. Ele está apenas colocando cada cidade no seu lugar.
Seu Edno é filho de agricultor-sofredor do nordeste. Trabalhava na roça. Hoje, a filha é formada em fisioterapia e o filho em publicidade. E onde e como seu Edno conseguiu mudar o leme do barco da vida?

Sendo taxista em São Paulo.



É por isso que ele não reclama.
“A única coisa que falta é meu filho falar inglês. Ele devia ter começado a fazer o curso no início da faculdade. Agora tá difícil conseguir emprego. Mas a minha filha já tá muito bem empregada”.
Essa é a clareza de raciocínio hoje de quem veio do Nordeste para fugir da seca e da fome.

Mas nem passa pela cabeça de seu Edno se aposentar em São Paulo. Ele não consegue imaginar qualquer tipo de descanso na cidade onde há duas décadas trabalha das 5h da manhã até as 9 da noite. De segunda a segunda.

Eu dou razão pra ele.
- É, seu Edno, São Paulo não é cidade pra descanso.
- Não é mesmo – ele confirma e continua:

 – Se fosse antigamente, não tinha jeito de voltar pra Salgueiro (interior de Pernambuco). Mas depois dos oito anos do governo Lula, agora tem emprego lá. Até sobra vaga! E a colheita é certa. Antes, a gente só colhia se chovesse. Se não chovesse, passava fome na roça. Hoje, todo mundo lá tem poço pra irrigar a terra. Agora tá bom pra voltar!

Nem sempre eu concordo com o que falam sobre o Lula. Mas eu precisei tirar o chapéu para a perspectiva de vida melhor que as mudanças trazem para seu Edno.

Já pensou, ele se aposentar e ter que continuar na cidade grande, longe da família?

- Mas o senhor tem ido pra lá ou só ouvi dizer?

- Voltei de lá faz um mês e meio, moça. Tá bom mesmo o negócio!

Mas os filhos dele não querem voltar. Eles não conheceram a seca nas terras da família. Então hoje não sentem no coração o valor que tem a terra umedecida com a água do poço.

Mas seu Edno vai voltar mesmo assim, comprar um caminhão pra trabalhar só quando quiser e aproveitar a nova fase de Salgueiro.

Eu entendo seu Edno.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O mundo fechou. E está para alugar.

Lá dentro tem um mundo. Lá você pode ficar feliz ou triste. Se emocionar ou dar gargalhadas. Pode chorar. Rir também.  Quem sabe até se transformar em uma pessoa melhor.
Lá dentro talvez você tenha uma idéia para melhorar um sentimento ruim escondidinho lá no coração e que há tempo você quer se desfazer dele. Ou quem sabelá você gaste alguns trocados com algo que vai trazer momentos de felicidade para alguém que você ame.

Não é pouca coisa. Tudo isso estava lá. Mas quase ninguém quis entrar. Quase ninguém parou para olhar. E na porta desse mundo agora está escrito: “aluga-se”.

Estou em Itajaí há 8 anos. De lá pra cá, vi quatro livrarias fecharem. Quatro, de 5!
Se não estou calculando errado, hoje existe apenas uma na cidade. E dentro de uma universidade. UMA – para 180 mil habitantes. UMA – e bem escondidinha, do lado de um prédio freqüentado por acadêmicos de Direito e de Jornalismo. A última que fechou deve fazer poucas semanas. Eu só passei por lá na semana passada.


Meu primeiro emprego foi uma livraria. O slogan dela era “o mundo mágico dos livros”. Nem precisava ser tão sugestivo para eu viajar enquanto trabalhava. Enquanto os clientes não entravam, o passatempo era ler – pelo menos um pouco – dos melhores livros da atualidade. Ou dos melhores livros clássicos. Nada mal, ein?

Só saí da livraria porque tinha a necessidade de contar histórias, de andar na rua – o que pode ser traduzido como “ser repórter”. Não fosse essa minha profissão, certamente voltaria a entregar currículos em livrarias.

Pode ser algo pessoal então?
Não sei. Mas me aperta o coração passar pela frente de mais uma livraria com a assustadora placa “aluga-se” substituindo os cartazes de divulgação de lançamento de livros.
Então só os acadêmicos de Direito e de Jornalismo estão lendo? E as crianças das escolas, os adolescentes? E como os pais estão dando o exemplo para os filhos, de trocar as novelas mal intencionadas pelos livros com histórias bem contadas?

Estranho... não vejo lan houses, bares e boates fechando com tanta frequência. Mas cada um escolhe o mundo em que vive, né? 

sábado, 1 de janeiro de 2011

Patrícia, se posiciona!


- Patrícia, se posiciona!

Estas foram as palavras que mais ouvi durante a minha virada de ano. Eu estava em Balneário Camboriú, transmitindo ao vivo – com exclusividade - o réveillon para a Record News.

Em Floripa, no estúdio, estava Ruth Enricone, comandando a transmissão.

- Patrícia, se posiciona....
- Atenção.
(frações de segundo em silêncio).
- Foi.
(Roda vinheta e Ruth começa a falar)

Estes eram os comandos que eu ouvia através do ponto eletrônico que fica no ouvido do repórter para ter contato com a produção. E no meio da multidão, eu entrava falando sobre o que aquelas pessoas veriam nos próximos minutos.

Esqueci de bater foto da nossa transmissão. Segunda-feira dou um jeitinho nisso...

- E para essa festa ser bonita, tem que ter segurança. Eu converso agora com o comandante da Polícia Militar de Balneário Camboriú....

Era impossível o texto chamar mais atenção do que a imagem.
Eu tenho 1 metro e meio de altura. E o entrevistado: 2,04m.
Foi divertido.

Ao contrário do que acontece na maioria das vezes, eu comecei como repórter fazendo participações ao vivo. Era no Jornal do Meio-Dia, com Graciliano Rodrigues. Primeiro era previsão do tempo. Depois, substituindo repórteres que estavam de folga ou de férias. Depois fui pra rua fazer reportagem.

Mas até hoje – nesse pouco tempo em que estou na área – nunca tinha feito um ao vivo tão gostoso e tão certinho.

Sabe como é. Ao vivo acontece de tudo... DE TUDO! rsrs

Mas deu tudo certo. Eram 4 câmeras na praia fazendo a transmissão. E outra capturando imagens para a reportagem do dia seguinte.

Pra mim, a melhor coisa que tem de fazer na minha profissão é ao vivo. É sensacional saber que tem milhares de pessoas te ouvindo no exato instante em que você está falando. Bom demais!

Mas se tem um desejo que eu tenho para 2011 é crescer um pouquinho mais. De altura mesmo! Esticar o braço lá pro alto e olhar pra cima pra entrevistar é demais pra mim! J

Feliz 2011 pra todos nós!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O que eu estou fazendo aqui?

A recepção estava lotada.

- De onde o senhor é?
- De São Paulo.
- E a senhora?
- De Franca, São Paulo.
- De onde o senhor é?
- De Curitiba.

Isso era o que eu ouvia enquanto esperava no Pronto Atendimento de uma clínica particular de Balneário Camboriú em uma noite desta semana. Havia apenas uma recepecionista para uma turma grande de pessoas que não queriam estar ali.

Um com braço quebrado, outra com braço quebrado, uma vomitando, outra com pressão alta – essa última tendo que responder nome da mãe, endereço completo (de Franca, SP), CEP, número de celular e outras informações que ficam bem mais difíceis de dar quando você pensa que pode ter um “piri-paque” a qualquer momento.

E assim estavam essas pessoas todas misturadas, durante horas na recepeção, aguardando atendimento, sem nem passar por uma avaliação antes pra saber quem podia e quem não podia esperar aquele tempo todo sem assistência médica.

Enquanto eu via essa cena, a primeira coisa que eu pensei foi:
- O que eu estou fazendo aqui? – já que eu só estava com fraqueza, vômito e dor no estômago.

Depois pensei:
- O que Caco Barcellos faria aqui? – imaginando a reportagem que meu grande ídolo faria sobre o sistema de saúde caso passasse por ali.

Deu vontade de dar uma forcinha pra ele. Pegar uma câmera escondida e filmar tudo aqui. Detalhe, vou repetir: era uma clínica particular.

Prefiro não pensar como estavam as públicas naquela noite.

Aí, quando chega a troca de turno, a recepcionista que chega para assumir a cadeira fala para a outra que está saindo, na frente de todos aqueles pacientes:

- Ish, vai ser uma noite daquelas. Vai acabar ficando sem recepcionista aqui, se continuar desse jeito.

- É, se me pagassem a hora eu até ficava. Mas já que não pagam, eu vou embora! – alertou a outra, aliviada, enquanto a turista de franca continuava passando mal no balcão.

- Ah, por falar nisso, você recebeu aqueles 160 reais? – continou a recepcionista com cara de sono que mal havia chegado, tentando entrar no ritmo do bonde andando.

Preciso refletir: a palavra “paciente” não tem duplo sentido a toa, não é?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dia normal

- E aí, como vai ser a ceia hoje à noite?

- Ah, nada demais. Pra mim é um dia normal como todos os outros.

- É, né?

- O Natal virou uma data comercial. E nem faz bem comer muito à noite.

- É verdade. Não faz.
.......

Foi assim a conversa que ouvi hoje de manhã enquanto fazia compras na verdureira para a ceia de Natal em família.
Fiquei triste.

- E o seu aniversário, você comemora? E o dia que você nasceu, é um dia normal como todos os outros?

Não. Eu não falei.
Mas deu vontade.

Tá certo que o Natal virou mesmo uma data comercial. Mas isso não diminui a importância do dia do nascimento de Jesus - a pessoa mais pura e iluminada que já esteve aqui na Terra.

Como disse um padre esses dias na televisão, "quando você dá um presente, é como você se estivesse se dando, se doando naquele gesto".

Eu não sou católica, mas tenho convicção de que o padre está certo. Quando a gente dá um presente, a gente dá pelo menos alguns segundos de felicidade a alguém. A gente se aproxima um pouco mais do coração da pessoa que convivemos no dia a dia e que às vezes esquecemos de dizer "poxa, como você é importante pra mim".

Não é o valor do presente que importa. É o gesto. É saber que durante alguns minutos - pelo menos enquanto o presente era escolhido e comprado - aquela pessoa pensou exclusivamente em você.
E isso não tem preço.

Eu comemoro o Natal. Sempre. Muito. Aproveito para abraçar forte quem eu amo, pedir perdão pelos erros que cometi com estas pessoas queridas.



Aproveito para aprender um pouco com a história linda do nascimento de Jesus. A fé de Maria e de José. A simplicidade do nascimento Dele. E todas as lições que essa História pode nos trazer.

O dia que Deus escolheu para trazer ao mundo o maior exemplo que a humidade já teve não é um dia normal. Nunca vai ser.

E desejo que não seja normal pra você também.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O lado adulto

Bárbara é minha irmã. Ela tem 10 anos de idade.
E com ela eu aprendo como é triste quando a gente tem o lado adulto mais forte que o lado criança. É praticamente uma tragédia.

Dia desses ela veio passar alguns dias das férias na minha casa para aproveitarmos a praia. Bárbara mora em Gaspar.

Depois de alguns dias de tempo fechado (e sem praia), eu já estava preocupada com a frustração que isso podia trazer. Então fomos passear em Balneário Camboriú, visitar a casa do Papai Noel e procurar presentes – tudo isso na chuva e na rua!

Quando eu achei que ela ia pedir pra ir embora, triste por não aproveitar a praia, ela disse:

- Que tempinho maravilhoso, ein, Paty?! Que delícia essas pingos de água assim caindo no corpo!

É bem isso. Depois de dias de chuva justamente no período que ela escolheu pra ir a praia, ela disse “Que tempinho maravilhoso!” sem qualquer indício de ironia nas palavras.

Rainha Bárbara

Mais tarde, quando fomos dormir, ela tinha que escolher entre quatro travesseiros. Escolheu o mais velhinho. Ruinzinho que dava dó.

- Escolhe outro. Ó, esse é novo! – eu aconselhei.
- Não, esse é bom.

No outro dia, antes mesmo de eu ouvir o “bom dia” preguiçoso que ela dá todas as manhãs, acordei com ela falando assim:

- Que travesseiro gostoso, Paty! Poxa!

Mas Bárbara não é sempre assim. Quando eu chego na casa dela, a primeira pergunta que me faz é:
- Paty, quando tu vais embora?

E assim que eu respondo, ela começa a ficar triste porque diz que já está pensando na hora que eu vou pra minha casa.

Esse deve ser o lado adulto dela. Fazer o quê... Todo mundo tem, né!?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Tchau. Até amanhã!

Todo trabalho tem momentos de estress, não tem?
Tomara que sim! Tomara que não seja só o meu! :-)

No nosso caso, na RIC Record, o que mais costuma fazer a gente dizer "hoje não é o meu dia!" são entrevistados que não aparecem, pautas que "caem" sem poder cair, edição que corre contra o tempo e por aí vai. Coisas que não estão sob nosso controle.

Mas tudo isso a gente "zera" antes de dizer "até amanhã!".
Isso porque - além de colegas de trabalho - nós somos amigos.
Sabe aquelas conversas de 5 minutos que te fazem esquecer todos os problemas que apareceram durante o dia?
Então, costuma ser assim a nossa despedida do dia de trabalho por lá.
No meu caso, quem costuma ser a responsável pelo meu "tchau" mais relaxado, é a querida Luana Lemke, que trabalha no mesmo horário que eu e produz o RIC Notícias, que eu apresento.

Eu, Luana e Douglas - pós RIC Notícias

Volta e meia o "quirido" Douglas Márcio também entra nestas conversas. Quando é comigo ele costuma terminar dizendo "não quero nada que venha de ti" - uma brincadeira bem carinhosa que ele costuma fazer. rsrs

Enfim... essas pequenas conversas, essas grandes amizades, me fazem feliz.
E desejo que todos nós tenhamos pequenas conversas, grandes amizades e muita felicidade sempre!