Lá dentro tem um mundo. Lá você pode ficar feliz ou triste. Se emocionar ou dar gargalhadas. Pode chorar. Rir também. Quem sabe até se transformar em uma pessoa melhor.
Lá dentro talvez você tenha uma idéia para melhorar um sentimento ruim escondidinho lá no coração e que há tempo você quer se desfazer dele. Ou quem sabelá você gaste alguns trocados com algo que vai trazer momentos de felicidade para alguém que você ame.
Não é pouca coisa. Tudo isso estava lá. Mas quase ninguém quis entrar. Quase ninguém parou para olhar. E na porta desse mundo agora está escrito: “aluga-se”.
Estou em Itajaí há 8 anos. De lá pra cá, vi quatro livrarias fecharem. Quatro, de 5!
Se não estou calculando errado, hoje existe apenas uma na cidade. E dentro de uma universidade. UMA – para 180 mil habitantes. UMA – e bem escondidinha, do lado de um prédio freqüentado por acadêmicos de Direito e de Jornalismo. A última que fechou deve fazer poucas semanas. Eu só passei por lá na semana passada.
Meu primeiro emprego foi uma livraria. O slogan dela era “o mundo mágico dos livros”. Nem precisava ser tão sugestivo para eu viajar enquanto trabalhava. Enquanto os clientes não entravam, o passatempo era ler – pelo menos um pouco – dos melhores livros da atualidade. Ou dos melhores livros clássicos. Nada mal, ein?
Só saí da livraria porque tinha a necessidade de contar histórias, de andar na rua – o que pode ser traduzido como “ser repórter”. Não fosse essa minha profissão, certamente voltaria a entregar currículos em livrarias.
Pode ser algo pessoal então?
Não sei. Mas me aperta o coração passar pela frente de mais uma livraria com a assustadora placa “aluga-se” substituindo os cartazes de divulgação de lançamento de livros.
Então só os acadêmicos de Direito e de Jornalismo estão lendo? E as crianças das escolas, os adolescentes? E como os pais estão dando o exemplo para os filhos, de trocar as novelas mal intencionadas pelos livros com histórias bem contadas?
Estranho... não vejo lan houses, bares e boates fechando com tanta frequência. Mas cada um escolhe o mundo em que vive, né?